Vindas das mais variadas fontes, as notícias sobre o futuro da
humanidade não são nada boas. Não há mais volta: mesmo que mudemos radicalmente
nossa forma de relação com o planeta a partir de hoje, o prejuízo causado por
nossas ações predatórias já atingiu um nível tamanho que o derretimento das
geleiras deve provocar o desaparecimento de todas as cidades ao nível do mar no
máximo até o final deste século. Essa triste previsão está num artigo publicado
há pouco mais de um mês pelo cientista britânico James Lovelock, autor da
famosa Teoria de Gaia (segundo a qual a Terra assemelha-se a um organismo vivo,
com mecanismos para auto-regular suas funções).
Ainda segundo Lovelock, a elevação da temperatura em até 8ºC nas regiões
temperadas e 5ºC nos trópicos vai provocar também, antes de 2100, impactos
desastrosos no equilíbrio ecológico, como a extinção maciça de espécies
vegetais e animais e o desaparecimento de vastas áreas selvagens como a
Floresta Amazônica, decretando o fim da maior parte da vida na Terra, com a
morte de milhões, talvez bilhões de pessoas. Na opinião do cientista, governos
sérios e responsáveis deveriam começar a desenvolver cartilhas com orientações
aos sobreviventes sobre como lidar com as difíceis condições de vida neste futuro
sombrio.
A reação do mundo a um alerta como esse, vindo de um dos mais reconhecidos
cientistas do nosso tempo, deveria ser de comoção popular. Deveríamos parar
tudo e começar a centrar nossos esforços em formas de ao menos minimizar os
tenebrosos efeitos anunciados. Mas nada disso aconteceu e tudo segue
normalmente como se essa fosse apenas mais uma notícia trivial e corriqueira.
Um jornal publica o artigo, outro dá uma nota curta e seca e assim vamos
tocando nossas vidas normalmente.
Essa atitude seria compreensível se a visão de Lovelock fosse apenas uma no
meio de outras conflitantes. Poderíamos confortavelmente acusá-lo de louco,
exagerado, catastrófico. Mas não é o caso. Já não são levadas a sério as cada
vez mais raras correntes científicas que colocam em dúvida o fato de que a
Terra sofre um processo de aquecimento acelerado, dificilmente reversível.
Segundo o Instituto Goddard de Estudos Espaciais, da Nasa, 2005 foi o ano mais
quente desde o início dos registros climáticos modernos, em 1890. E, pior, de
acordo com o instituto, todos os cinco anos mais quentes durante este período
ocorreram na última década, mostrando clara tendência de aquecimento global. Um
representante do órgão declarou à imprensa que, usando medições indiretas que
vão a um passado ainda mais remoto, o ano passado foi provavelmente o mais
quente dos últimos milhares de anos. Mais uma notícia que lemos e viramos a
página, sem dar muita atenção.
Mais: um aumento de 3ºC na temperatura média da Groelândia duplicou a
quantidade de água que suas geleiras vêm derramando no Oceano Atlântico,
segundo recentes pesquisas do Laboratório de Propulsão a Jato e do Instituto de
Tecnologia da Califórnia. Há registros de diminuição das geleiras no Himalaia,
nos Andes, no Monte Kilimanjaro, e a única estação de esqui da Bolívia,
Chacaltaya, fechou porque sua neve está acabando.
Acha pouco? A lista é longa, o espaço de um artigo é limitado. O diretor da
Pesquisa Antártica do Reino Unido, Chris Rapley, disse, em janeiro passado,
durante reunião da Sociedade Americana para o Avanço da Ciência, que algumas
partes da camada de gelo da Antártida começaram a derreter em um ritmo
assustadoramente intenso e anormal. Rapley afirmou que, há apenas cinco anos, a
Antártida era considerada como um gigante adormecido em termos de mudança
climática. "O gigante despertou e é melhor que se preste atenção
nele", disse o cientista. Ninguém parece muito preocupado. A humanidade
finge não ver o que está acontecendo.
Enquanto isso, James Hansen, o principal especialista em mudança climática da
Nasa, denuncia uma tentativa do governo dos EUA de silenciá-lo. A campanha
começou depois de um discurso proferido em dezembro passado, quando Hansen
pediu a rápida redução na emissão dos gases estufa, relacionados ao aquecimento
global. Segundo ele, diretores da Nasa deram ordem aos responsáveis pelas
relações públicas do órgão para revisar os textos de suas futuras conferências,
suas publicações no sítio do instituto na Internet e para controlar os pedidos
de entrevistas de jornalistas.
Há caminhos que podem ser trilhados se a humanidade realmente abrir os olhos
para a questão. Uma série de ações voltadas ao fomento de fontes de energia
renováveis, em um livro elaborado por 250 analistas internacionais, foi
apresentada recentemente pelo diretor-executivo da Agência Internacional da
Energia, Claude Mandil. Aparecem, entre elas, as energias produzidas pelo
vento, o sol, as fontes geotérmicas e os oceanos. Ótimo, não? Não, se o
raciocínio que só encontra sentido na produção otimizada e no lucro continuar
reinando absoluto. Segundo o próprio Mandil, o grande problema de suas
propostas é o custo econômico alto para trazê-las para a prática, o que,
segundo diz, inviabiliza suas iniciativas e faz os governos se mostrarem
reticentes a elas.
Por que é que a gente é assim? Por que fechamos os olhos para estes alertas,
apesar de estar claro que é apenas uma questão de tempo para as conseqüências
nefastas de essas previsões começarem a afetar brutalmente nossas vidas e,
principalmente, as vidas de nossos filhos e netos? Acho que a nossa espécie,
apesar da capacidade relativamente bem desenvolvida de prever o futuro, é menos
competente na hora de mudar suas atitudes, mesmo quando colocada contra a
parede. Enquanto não superarmos esta limitação, não haverá espaço para a
esperança.
Gente temos que cuidar melhor do nosso planeta se não as teremos muitas consequências!
Comentário:
As geleiras são muito importantes para o meio ambiente , pois concentra a temperatura da terra surpotavel.